terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Deus é arqueólogo


E a terra onde ele escava é o coração.
            Primeiro, bate à porta. Educadamente. Ele está à porta. O coração é a porta. Dele procedem as fontes da vida. É terreno abissal.
 Se você abrir, Jesus entrará e ceiará com você. Mas mesmo sendo convidado, depois do jantar, o Senhor tem muito a fazer em sua casa. Ele deixou a posição de maior glória e majestade no céu e tomou a forma de servo. Porque segundo a lei de Deus, maior é o que mais ... serve. Tudo ao contrário do mundo. O reino de Deus é, sempre, oposto ao mundo.
            A louça suja é só o início do trabalho, pois Deus quer fazer uma mudança profunda em sua casa. A louça é como a camada mais superficial do terreno do escavador. Aqui, há documentos e objetos guardados no fundo dos armários e gavetas. A terra guarda o tempo em camadas. Os vestígios da história, em forma de objetos, são mais antigos quanto mais profunda for sua localização na terra. Assim também nossa história e nosso caráter estão guardados em camadas em nosso coração.
            O trabalho do arqueólogo consiste em encontrar, limpar, reconhecer, organizar e separar, minuciosamente, inúmeros objetos e seus fragmentos, peças de um quebra-cabeça que fala dos usos e costumes de um tempo, povo ou lugar. É preciso separar o precioso do vil. Guardar o que tem valor, descartar o que é inútil.
            Antes de começar seu trabalho, o arqueólogo demarca precisamente o sítio onde vai trabalhar. A escavação será profunda, mas delicada e minuciosa, com a precisão cirúrgica de um bisturi. Quando a escavação é em nosso coração, o arqueólogo é também o médico dos médicos. É preciso entregar seu coração. Deixe-o trabalhar, ele sabe o que faz e sua obra será perfeita.
O trabalho começa na superfície. Como um pai de família que tira de seu baú coisas novas e velhas, Deus trabalha, incessantemente, nos corações onde foi convidado a entrar.
Se você abriu a porta, em primeiro lugar ele perdoa seus pecados. Ele vai te tirar do mundo, e em seguida, tirar o mundo de dentro de você.  “Porque não devemos amar o mundo e as coisas que nele há.” Tudo o que você “adorava”, “não podia viver sem”, se não agrada a Deus pouco a pouco, ele vai tirar. Mas o que ele tem para colocar no lugar incomparavelmente melhor. O Senhor tem riquezas eternas e segredos para compartilhar conosco. Mas como receber um presente deste quilate, os segredos do coração de Deus, se o mundo ocupou totalmente seu coração? É preciso abrir mão, entregar, deixar Jesus esvaziar sua casa coração para então, fazer novas todas as coisas. Somos como vasos na mão do oleiro. O Senhor não remenda vasos, ele os quebra, e faz de nós vasos totalmente novos.
Quanto maior a entrega, mais rápido e eficaz o trabalho será.
Quando você finalmente compreender que os sonhos e planos de Deus pra você são muito melhores que os seus próprios planos pra você, vai querer entregar os seus e trocá-los pelos do Pai. Depois de limpar seu coração ele começará a gerar, em você, os sonhos dele. Prepare-se, você vai ficar maravilhado, sem palavras, quando começar a andar nos caminhos altos de Deus.
Mas, atenção: ser terreno de escavação não é nada fácil. Como um paciente que vai ser operado, é melhor não se degladiar no bloco cirúrgico. Você está ali por sua necessidade, e para ser totalmente transformado. O melhor é se entregar, e confiar.
No coração, quando a escavação chega em camadas mais profundas, é a vez de ter o caráter lapidado.  Jesus vai começar a mexer em nossa personalidade. Sabe por quê? Porque ele quer que você se torne cada vez mais parecido com ele. O objetivo de Deus conosco é que tenhamos o caráter, o coração, e a mente de Jesus. Deixe Deus trabalhar. Ele tem um plano pronto, sabe exatamente aonde quer chegar.
Há uma eternidade na presença do pai e do filho, para aqueles que crêem, e perseveraram com ele no caminho.
Há um lugar preparado especialmente pra você à mesa das bodas do Cordeiro. Nós somos a noiva de Cristo. Se você não for, seu lugar ficará vazio pra sempre, e você, fora da presença de Deus.
E não apenas isto, mas o pai quer se relacionar, ter intimidade com aqueles que são seus filhos. Como é possível ser íntimo de quem você não conhece?
Neste exato momento, ele está à porta e bate. Você vai deixá-lo entrar?

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

ESPANHA



Amanhece sobre os Pirineus.

Um leito de nuvens
se acomoda entre as montanhas
como mar.
A terra é seca.
Energia é tirada do vento
e óleo das azeitonas prensadas.
O povo também é árido.
Sombras longas se projetam
pelos campos
anunciando nos povoados
o dia que se levanta.
Um rio ou outro
serpenteia sobre a terra.
Um patchwork verde e marrom
ton sur ton
mostra o sustento vindo da terra.
Tudo peleja.
Tudo subsiste.
Escrevendo e prosseguindo em sua história,
a Espanha vive.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Memórias da minha cidade



Eu me lembro bem da minha cidade nos anos 70. Ela era, pra mim, enorme, mas bem conhecida, pois sempre moramos na região central e transitávamos muito, de carro, ônibus, a pé.
Nossa escola, o Einstein, era, literalmente, colada na nossa casa e, digamos, uma extensão dela. Como meu pai, profissional da educação, contribuía voluntariamente nas questões da escola, e éramos envolvidos com a comunidade (inclusive nos fins de semana); não raro recebíamos a visita de professores, que se tornavam amigos, e de inúmeros colegas: verdadeiras hordas de crianças em nosso apartamento, desde os melhores amigos, até crianças estilo “esqueceram de mim”: os pais não buscavam, a escola tinha que fechar, e pediam pra minha mãe se o menino podia ir lá pra casa esperar  “o resgate”.
Morávamos no terceiro, e último, andar de um pequeno prédio. Pra ir pra escola, era só descer correndo as escadas, muitas vezes escorregando pelo corrimão de mármore, quando o sino da D. Isabel, guardiã da porta da escola, já tinha tocado, e tínhamos, eu e meu irmão, literalmente que voar, pra pegar o portão aberto.
A União Israelita, ou “União”, para os íntimos, era o clube que frequentávamos nos fins de semana. Clube e escola funcionavam no mesmo lugar. A enorme piscina azul podia ser vista da janela do meu quarto. Ali passamos inúmeros dias, soltos, nadando e brincando por horas.
No “salãozão”, como chamávamos o grande auditório com palco, coxia e tudo, é que vi, assombrada, pela primeira vez, senhores já bem idosos, marcados na parte inferior do antebraço com um enorme número, terrível memória dos campos de concentração. Estes haviam escapado do terror, e lá estavam, tranquilos, jogando cartas enquanto o tempo passava devagar.
Muitas histórias aprendi nos dez anos de Einstein: ali fui alfabetizada, aprendi sobre a cultura e história judaicas e, sobretudo, a amar o povo judeu como uma extensão de mim mesma. A deliciosa comida, simbólica e milenar; as épicas histórias da Bíblia, as festas típicas, o hebraico, os feriados, inúmeros, judaicos e cristãos, a bandeira de Israel, e, finalmente, um jeito criativo, questionador, e quase anárquico de ensinar, em plena ditadura; tudo isto ficou gravado em mim em profundas camadas do meu coração para sempre.
Bem, mas saindo da escola para a cidade. Nos fins de semana, com nosso pai de folga, e um permanente espírito explorador, ampliávamos nosso círculo de abrangência.
O centro de Belo Horizonte era uma delícia. Coisa boa era assistir às matinês no Cine Jacques, Acaiaca ou Pathé.  Ao lado do Cine Jacques, o lanche no Ted’s fechava o passeio com chave de ouro. Na praça da Liberdade já existia o Xodó, com a melhor batata chips do mundo, num formato quadriculado que nunca mais vi. Meu pai gostava tanto das matinês que era capaz de ir sozinho até para assistir Tom e Jerry ou Carlitos. Ele dava gargalhadas tão altas que eu e meu irmão abaixávamos na cadeira morrendo de vergonha.
Vez por outra passeávamos no Mercado Central, e minha diversão predileta era observar o colorido movimento das lojas e pessoas, através do recorte das grades instaladas no chão do piso do estacionamento.   
A Praça da Liberdade era território de pais e crianças. Ali aprendi a andar de bicicleta e brincávamos de sermos arrastados nas folhas das palmeiras que caiam na alameda principal.
Quando as chuvas começavam, a Avenida Afonso Pena ficava linda de noite, refletindo no asfalto molhado as luzes coloridas de Natal. Cada ano era uma decoração. Hoje pensando, acho que a decoração era meio “brega”, mas eu achava linda. Subir e descer a avenida de carro era nosso “caminho da roça.”
Outra coisa que eu fazia muito era ver a cidade deitada no carro. Os trajetos mais conhecidos, como da nossa casa à casa da vovó, na ida e na volta, eu podia adivinhar, apenas olhando o alto dos prédios e o céu. Eram trajetos aéreos da cidade, que até hoje guardo na memória.
No início do ano letivo, todo ano, minha mãe me levava pra fazer um sapato ortopédico. O sapateiro colocava meus pés em cima de um papel de mercearia, e fazia seu contorno com uma caneta, o que fazia muita cosquinha. Este procedimento durou anos. Meu pé continuou chato, mas eu me diverti muito com aquilo e fiquei com uma memória bucólica do assunto.
Outra sapataria que frequentávamos era “A Balalaika”, na Avenida Afonso Pena, no centro. Acho que ninguém, exceto eu e minha mãe, deve se lembrar disso. O atendente era o filho do dono, que nos tratava sempre com o máximo de decoro e educação.
Roupa, fazíamos em costureiras. Como tenho saudade disso. Elas passavam o dia em nossa casa, fazendo várias peças para a família. Quando fui crescendo, passei a escolher os tecidos e desenhar os modelos , em cada detalhe, o que era um exercício de arte e uma grande diversão. Uma de nossas costureiras mais frequentes, Balbina, costumava fazer roupas maiores que a medida, e quando a gente reclamava, ela simplesmente dizia: “É só você por um brochinho aí, que fica ótimo.” Que cara de madeira!
Belo Horizonte cresceu. Hoje, vista do alto, nem a reconheço. Moro fora da cidade. Circulo numa pequena parte da cidade, não sei muito do resto. Vejo pessoas com caras fechadas e, em alguns pontos, várias  “tribos urbanas”. O espaço público não pertence mais a seus habitantes. Todo mundo anda de carro, vidro fechado, a violência aumentando. É difícil hoje soltar uma filha adolescente para andar sozinha, como eu fiz, toda vida.
A memória que meus filhos terão da cidade será totalmente diferente da minha.
Diferente da do meu pai; que se mudou pra cá nos anos 1950, vindo do interior para estudar, e “vencer na vida”.
Mais diferente ainda da memória do meu avô Pimentel, que veio para a capital em 1933, começou a dirigir aos 13 anos, quando haviam, pasmem, apenas 7 carros em toda a cidade, apenas um guarda de trânsito e um posto de gasolina, este, pensavam, fadado a falir por falta de clientes.
Ou minha avó Dina, que se formou no mesmo ano no Conservatório, em piano e canto, e fundou a primeira orquestra de mulheres de Belo Horizonte.
Sim, a cidade mudou. Temos mais recursos, mas muito mais limitações. O simples deslocamento de um lugar a outro se tornou um caos. É o que chamam de desenvolvimento.
Tenho vergonha de dizer a meus filhos que eles não podem andar a pé pela cidade. O espaço público não é seguro. Quem sabe um dia. Quem sabe noutro lugar. Nossa relação com a cidade não é mais de intimidade. Pulamos de um a outro lugar seguro. Alguns, verdadeiros “condomínios de seguranças máxima”. Eu prefiro andar a pé. Observar o tempo, as pessoas. Respirar o lugar. Ainda não perdi a esperança.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

No Jardim de Bax - Video documentário

        
        Como um Monet brasileiro, Bax, em seu jardim, fala de sua vida e da arte.
        Na intimidade de seu atelier, ao som da música clássica, vemos surgir anjos, peixes, cidades submersas; tudo repleto de abissal azul.
       Técnica e humanidade herdadas do mestre e amigo Guignard. Um mergulho no universo pessoal do artista que, ao completar 80 anos e 62 de carreira, se confirma como verdadeiro representante do modernismo brasileiro.


domingo, 28 de abril de 2013

Datas Especiais

Datas especiais marcam nossa existência. Atualmente, em nosso dia-a-dia, corremos atrás do tempo, mal conseguindo encaixar na agenda obrigações com casa, trabalho e filhos, deixando, muitas vezes, o tempo tão vital de descanso, lazer e convívio com amigos e família, literalmente, à deriva.

De uma criança aos bisavós, todos concordam que o tempo anda exíguo, "não dá pra nada", e cada um tem sua teoria para explicar tal fato: excesso de atividades, dizem uns; mudança na rotação da terra, já comprova a ciência.

A verdade é que a qualidade de nossa vida tem sido muito sacrificada pela falta de tempo.

Pra completar,  fatores como a crescente falta de mão-de-obra doméstica, e o aumento absurdo do custo de vida no Brasil, nos impelem a trabalhar mais, dentro e fora de casa, para manter nossa vida, inclusive finaceira, em dia, tendo que cortar programas de diversão e lazer fora de casa, seja pela falta de tempo ou por questões econômicas.

Todos estes fatores, juntos, muitas vezes têm provocado, tanto em crianças, quanto em homens e mulheres adultos ativos, um cansaço extremo e até uma certa desesperança. A vida fica sem sentido. É como correr atrás do vento. Os adultos se matam para simplesmente pagar as contas. As crianças têm tantas atividades, que nem têm tempo de ficar à toa, brincar e viver os primeiros anos, tão curtos e essenciais para sua formação, sendo, simplesmente...crianças!

Por outro lado, o excesso de consumo, e a preocupação exacerbada com a aparência, em detrimento do cultivo de valores essenciais, na educação "de berço" e nos relacionamentos, têm produzido um vazio existencial tão grande, que lota os consultórios psiquiátricos e aumenta o uso, muitas vezes abusivo, de medicamentos pesados, por pacientes de todas as idades. Trata-se o sintoma, não se analisa a causa. Todos querem viver como numa propaganda de sabonete, ou de cartão de crédito; ninguém quer viver a vida como ela é, com sua natureza, que muitas vezes inclui dificuldades e sofrimento, para que possamos APRENDER, e CRESCER!

Como uma música descrita em uma partitura, a vida é feita de silêncio e sons; precisa ter compassos diversos, relacionando-se entre si. É, ora rápida, ora lenta, ora silêncio, mas sempre com respiração, pausa, ritmo.

Viver num moto contínuo acelerado, é ter como trilha sonora de sua existência não uma composição de Bach ou do mestre dos épicos Enio Moriconne, mas sim um apito de guarda de trânsito: sem intervalo, pausa, ou variação de ritmo. Socorro! Onde é que vamos parar deste jeito? É bom paramos para reavaliar e mudar, antes que a própria vida nos pare!

Não sei se a vida está nos maltratando ou nós é que estamos maltratando a vida! Ela está aí, ainda, disponível, por um curto tempo, precisamos ter sabedoria! Para vivermos melhor, a ordem do dia é SIMPLIFICAR!

Mas, ainda que nem sempre tenhamos sabedoria, a vida nos reserva momentos especiais, que nos permitem parar, apreciar e enxergar nosso tempo nesta terra de forma mais ampla.

O aniversário de um filho, um jantar com amigos, seu aniversário de casamento, um curso que se conclui, uma reconhecimento que recebemos, um feedback espontâneo de um professor sobre a educação de seus filhos. Marcos na vida diária. Recompensas de nosso árduo trabalho. 

Há um dia em que você tira a melhor louça do armário, faz uma receita especial, que talvez lembre sua infância, convida seus amigos e a família. Sua casa se enche, parece um "tsunami do bem", todos passam como um furacão e, num minuto, se vão. No outro dia, enquanto todo mundo dorme, você ainda percebe no ar a alegria das pessoas juntas. A sala, vazia, está alegre, o chão, arranhado, conta que muitas pessoas queridas se encontraram, riram, e as crianças juntas brincaram.

Você se lembra de como você mesmo foi moldado num ambiente de convívio íntimo, dentro da cultura familiar que começa na casa dos pais e avós, se expande para a casa de tios, amigos, e de outras famílias que orbitam ao redor.

Mais tarde, você corta o cordão umbilical que prende seu balão de gás e alça voo, seu mundo, antes a família, alarga fronteiras, até se tornar o próprio mundo. Sua cultura familiar se mistura à de famílias de terras longíquas.

Mas, um dia, anos depois, você se acha de volta e, numa manhã silenciosa de domingo, enquanto a casa dorme e o sol de inverno se anuncia, você se lembra de tudo o que te forjou. Nesta hora você sabe, que você é: seus pais, irmãos, avós, amigos. Todos os que você ama, até os que já se foram ou longe estão, são parte de você, e certamente você também é parte de pessoas que te amam em várias partes do planeta.

Você sabe: que sua história pode estar numa lembrança, numa louça ou receita de vó, na comida que sua mãe ainda faz,e nos dias de festa, traz; na contribuição de cada amigo ou irmão; e que todo este legado de amor e cuidado, que nos faz pertencer, a um tempo e lugar, e existir, é hoje, transmitido da mesma forma a nossos filhos e amigos, nas camadas infinitas do cotidiano, e também em dias especiais.

Estas datas, quando todos se vão, e você, exausta vê, no sorriso do seu pequeno aniversariante, uma alegria que dispensa palavras, diante de sua pequena festa à moda antiga, totalmente "feita em casa", para poucos amigos e familiares, nos levam a pensar que a vida, de fato, VALE A PENA!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Diálogos da vida moderna

Sexta-feira à noite. Júlia se prepara para receber um casal de amigos em casa para jantar. Fim do dia, correria, rush. Chegando em casa, depois de um longo dia de trabalho, percebe que precisa de um artigo urgente. Liga para o marido. Ele, no trânsito, a caminho de casa, todo solícito, atende o celular.
Por segurança, coloca o smartphone sobre a perna, no viva-voz:
"Como é bom contar com esta teconologia de ponta - pensa ele - não é à toa que este aparelho é o modelo mais vendido no mundo. Um diálogo como este seria impensável há alguns anos atrás."

- Oi, amor.
- Oi, querido, tudo bem? Por favor, traga absorvente.
- Tudo bem, você quer que eu leve sorvete?
- Não!! Ab-sor-ven-te.
- Pode deixar, já entendi, sorvete!
-O que aconteceu, você não está me ouvindo?
- Tá bom, também quer que eu leve vinho!
- Você está fazendo hora com a minha cara? Eu preciso de Modess?
- Ah, de nozes! Pode deixar, querida, eu levo: sorvete, vinho e nozes! Mais alguma coisa?
-Não, obrigada!
"Deixa pra lá -pensa ela - quando você chegar eu converso com você, usando a mais imbatível tecnologia
de relacionamento de todos os tempos: o "face to face"."

quarta-feira, 6 de março de 2013

Fases da vida



         Em plena terça-feira, na hora do almoço, o menino, à queima-roupa, dispara:
- Mãe, que idade você prefere: a infância, a adolescência ou a “adultice”?
A mãe, se divertindo com a pergunta e ao mesmo tempo tentando entendê-la:
- Você quer dizer, pra minha vida?
- É!
- Bem, cada fase tem seus prós e contras! (E, pra si mesma, pensando: Na verdade, não se pode escolher).   
 E, enquanto a mãe ainda pensava, lá vem ele:
- Eu prefiro a adolescência.
- Mas você só tem 9 anos!
- É que fico vendo meus irmãos, eles tem tantos programas, deve ser legal!
- Filho, na verdade a gente só tem o presente. É melhor viver bem cada fase da vida, e não ficar pensando no que já foi ou ainda não é.
- É, mas eu já escolhi: Na infância, prefiro a adolescência. Na adolescência, acho que também vou preferir a adolescência. Na adultice, a juventude. E na velhice, vou preferir a infância.
 E, maroto, pra concluir:
- Ser velhinho deve ser legal: todo mundo fica te paparicando: te leva pra lá, te leva pra cá, come gelatina, bolo, agora cochila. Você não tem que fazer nada, pode ver tv um tempão e depois vai dormir!

Este menino...

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Consciência


Estávamos à mesa conversando; eu e dois de nossos filhos. Em nossa casa, conversamos muito com eles, e a mesa é um ótimo lugar para isto. Desde pequenos, analisamos juntos o mundo, situações e comportamentos à nossa volta, o conteúdo do que consomem (da comida à cultura), buscando sempre pautar a educação que lhes damos em princípios e valores,como principal ferramenta para forjar seu caráter.

Pois outro dia estávamos falando da memória que eles têm de seus bisavós, e o pequeno, disse: "Eu gostaria de ter aproveitado mais meus bisavós."- falando dos que já se foram com um ar, assim, meio triste.
Eu, tentando fazer uma escavação arqueológica em seu pensamento, para entender o que ele estava pensando, perguntei:  "O que você quer dizer, meu filho?"

E ele, de seus 10 anos, ainda incompletos, disse: "Quando convivi com meus bisavós, eu era muito pequeno, não tinha consciência de quem eles eram, nem de que um dia eles iriam embora para sempre! Se soubesse teria aproveitado mais deles!"

Buscando presença de espírito para sair bem da situação, eu quis valorizar sua experiência, mostrando o outro lado da moeda. E disse: "É verdade, meu filho, você era muito pequeno, não tinha como perceber as coisas de forma diferente. Mas podemos ver tudo de mais de um ângulo: se você parar pra pensar, vai ver que é um menino privilegiado, pelo simples fato de conviver com seus bisavós. Hoje, as pessoas estão casando cada vez mais tarde, quando casam; tendo filhos ainda mais tarde, quando têm, o que aumenta muito a distância entre as gerações. Por isto, muitas crianças não conhecem nem os avós, ou convivem por pouco tempo, o que se dirá dos bisavós. Então, o seu caso é uma excessão, você conheceu e pôde conviver com vários de seu bisavós. Não é bacana?

Diante deste "arremate na costura", parece que o pequeno saiu aliviado e mais animado.