domingo, 28 de abril de 2013

Datas Especiais

Datas especiais marcam nossa existência. Atualmente, em nosso dia-a-dia, corremos atrás do tempo, mal conseguindo encaixar na agenda obrigações com casa, trabalho e filhos, deixando, muitas vezes, o tempo tão vital de descanso, lazer e convívio com amigos e família, literalmente, à deriva.

De uma criança aos bisavós, todos concordam que o tempo anda exíguo, "não dá pra nada", e cada um tem sua teoria para explicar tal fato: excesso de atividades, dizem uns; mudança na rotação da terra, já comprova a ciência.

A verdade é que a qualidade de nossa vida tem sido muito sacrificada pela falta de tempo.

Pra completar,  fatores como a crescente falta de mão-de-obra doméstica, e o aumento absurdo do custo de vida no Brasil, nos impelem a trabalhar mais, dentro e fora de casa, para manter nossa vida, inclusive finaceira, em dia, tendo que cortar programas de diversão e lazer fora de casa, seja pela falta de tempo ou por questões econômicas.

Todos estes fatores, juntos, muitas vezes têm provocado, tanto em crianças, quanto em homens e mulheres adultos ativos, um cansaço extremo e até uma certa desesperança. A vida fica sem sentido. É como correr atrás do vento. Os adultos se matam para simplesmente pagar as contas. As crianças têm tantas atividades, que nem têm tempo de ficar à toa, brincar e viver os primeiros anos, tão curtos e essenciais para sua formação, sendo, simplesmente...crianças!

Por outro lado, o excesso de consumo, e a preocupação exacerbada com a aparência, em detrimento do cultivo de valores essenciais, na educação "de berço" e nos relacionamentos, têm produzido um vazio existencial tão grande, que lota os consultórios psiquiátricos e aumenta o uso, muitas vezes abusivo, de medicamentos pesados, por pacientes de todas as idades. Trata-se o sintoma, não se analisa a causa. Todos querem viver como numa propaganda de sabonete, ou de cartão de crédito; ninguém quer viver a vida como ela é, com sua natureza, que muitas vezes inclui dificuldades e sofrimento, para que possamos APRENDER, e CRESCER!

Como uma música descrita em uma partitura, a vida é feita de silêncio e sons; precisa ter compassos diversos, relacionando-se entre si. É, ora rápida, ora lenta, ora silêncio, mas sempre com respiração, pausa, ritmo.

Viver num moto contínuo acelerado, é ter como trilha sonora de sua existência não uma composição de Bach ou do mestre dos épicos Enio Moriconne, mas sim um apito de guarda de trânsito: sem intervalo, pausa, ou variação de ritmo. Socorro! Onde é que vamos parar deste jeito? É bom paramos para reavaliar e mudar, antes que a própria vida nos pare!

Não sei se a vida está nos maltratando ou nós é que estamos maltratando a vida! Ela está aí, ainda, disponível, por um curto tempo, precisamos ter sabedoria! Para vivermos melhor, a ordem do dia é SIMPLIFICAR!

Mas, ainda que nem sempre tenhamos sabedoria, a vida nos reserva momentos especiais, que nos permitem parar, apreciar e enxergar nosso tempo nesta terra de forma mais ampla.

O aniversário de um filho, um jantar com amigos, seu aniversário de casamento, um curso que se conclui, uma reconhecimento que recebemos, um feedback espontâneo de um professor sobre a educação de seus filhos. Marcos na vida diária. Recompensas de nosso árduo trabalho. 

Há um dia em que você tira a melhor louça do armário, faz uma receita especial, que talvez lembre sua infância, convida seus amigos e a família. Sua casa se enche, parece um "tsunami do bem", todos passam como um furacão e, num minuto, se vão. No outro dia, enquanto todo mundo dorme, você ainda percebe no ar a alegria das pessoas juntas. A sala, vazia, está alegre, o chão, arranhado, conta que muitas pessoas queridas se encontraram, riram, e as crianças juntas brincaram.

Você se lembra de como você mesmo foi moldado num ambiente de convívio íntimo, dentro da cultura familiar que começa na casa dos pais e avós, se expande para a casa de tios, amigos, e de outras famílias que orbitam ao redor.

Mais tarde, você corta o cordão umbilical que prende seu balão de gás e alça voo, seu mundo, antes a família, alarga fronteiras, até se tornar o próprio mundo. Sua cultura familiar se mistura à de famílias de terras longíquas.

Mas, um dia, anos depois, você se acha de volta e, numa manhã silenciosa de domingo, enquanto a casa dorme e o sol de inverno se anuncia, você se lembra de tudo o que te forjou. Nesta hora você sabe, que você é: seus pais, irmãos, avós, amigos. Todos os que você ama, até os que já se foram ou longe estão, são parte de você, e certamente você também é parte de pessoas que te amam em várias partes do planeta.

Você sabe: que sua história pode estar numa lembrança, numa louça ou receita de vó, na comida que sua mãe ainda faz,e nos dias de festa, traz; na contribuição de cada amigo ou irmão; e que todo este legado de amor e cuidado, que nos faz pertencer, a um tempo e lugar, e existir, é hoje, transmitido da mesma forma a nossos filhos e amigos, nas camadas infinitas do cotidiano, e também em dias especiais.

Estas datas, quando todos se vão, e você, exausta vê, no sorriso do seu pequeno aniversariante, uma alegria que dispensa palavras, diante de sua pequena festa à moda antiga, totalmente "feita em casa", para poucos amigos e familiares, nos levam a pensar que a vida, de fato, VALE A PENA!

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Diálogos da vida moderna

Sexta-feira à noite. Júlia se prepara para receber um casal de amigos em casa para jantar. Fim do dia, correria, rush. Chegando em casa, depois de um longo dia de trabalho, percebe que precisa de um artigo urgente. Liga para o marido. Ele, no trânsito, a caminho de casa, todo solícito, atende o celular.
Por segurança, coloca o smartphone sobre a perna, no viva-voz:
"Como é bom contar com esta teconologia de ponta - pensa ele - não é à toa que este aparelho é o modelo mais vendido no mundo. Um diálogo como este seria impensável há alguns anos atrás."

- Oi, amor.
- Oi, querido, tudo bem? Por favor, traga absorvente.
- Tudo bem, você quer que eu leve sorvete?
- Não!! Ab-sor-ven-te.
- Pode deixar, já entendi, sorvete!
-O que aconteceu, você não está me ouvindo?
- Tá bom, também quer que eu leve vinho!
- Você está fazendo hora com a minha cara? Eu preciso de Modess?
- Ah, de nozes! Pode deixar, querida, eu levo: sorvete, vinho e nozes! Mais alguma coisa?
-Não, obrigada!
"Deixa pra lá -pensa ela - quando você chegar eu converso com você, usando a mais imbatível tecnologia
de relacionamento de todos os tempos: o "face to face"."