O menino era muito pequeno, devia ter, no máximo, quatro anos. Um amigo muito próximo da família aconselhou seus pais a fazerem um plano de previdência privada para o pequeno e seus irmãos. Para agilizar o processo, tanta intimidade tinha, que mandou fazer o CPF das crianças, condição sine qua non para se fazer o tal plano.
Pois muito bem, dia vai, dia vem e, a despeito de tanta modernidade, de repente, vão chegando, uma a uma, quatro cartas pelo Correio, endereçadas a cada uma das crianças da casa.
Pra quem nasceu na era da internet, do cartão de banco, e do playstation, aquilo era pra lá de insólito, coisa nunca vista, até parecia ser da época do vinil, da fita cassete ou do projetor de super-8 do avô.
Nesses tempos em que não se recebe mais carta de namorado nem de amiga estrangeira (aquelas, com direito ao deleite da espera e das provas materiais do remetente - seja a caligrafia, a textura do papel, o perfume, o selo ou o carimbo de origem, uma flor seca ou até uma borboleta dentro no envelope); e que só se recebe pelo correio aquilo que não se quer - propaganda, jornal do bairro e contas a pagar- , uma carta com nome de criança é mesmo uma experiência singular.
Nesses tempos em que não se recebe mais carta de namorado nem de amiga estrangeira (aquelas, com direito ao deleite da espera e das provas materiais do remetente - seja a caligrafia, a textura do papel, o perfume, o selo ou o carimbo de origem, uma flor seca ou até uma borboleta dentro no envelope); e que só se recebe pelo correio aquilo que não se quer - propaganda, jornal do bairro e contas a pagar- , uma carta com nome de criança é mesmo uma experiência singular.
A mãe fez um certo suspense, aproveitando a oportunidade para ensinar. Curiosidade criada, o menino se aproximou e foi logo abrindo o envelope, com todo cuidado pra não rasgar o conteúdo.
Lá dentro não tinha carta, mas um papel bem dobrado, com um lindo cartão azul , aonde ele reconhecia seu nome completo e três grandes letras brancas formando uma sigla: C P F.
Como conhecia bem o alfabeto, mas ainda não sabia ler, foi logo perguntando: - "Mãe, o que é CPF?"
- Cadastro de pessoa física, respondeu a mãe.
O menino ficou suspenso por um tempo, digerindo a informação. Aquele cartão parecia ser mesmo algo muito importante. Talvez com ele pudesse tirar dinheiro na máquina do banco, e então comprar picolé, figurinhas e um monte de gibis.
O significado daquelas palavras era difícil de entender, mas o certo é que a partir daquele momento algo parecia prestes a mudar definitivamente.
Então, num lampejo, muito sério, disparou:
O significado daquelas palavras era difícil de entender, mas o certo é que a partir daquele momento algo parecia prestes a mudar definitivamente.
Então, num lampejo, muito sério, disparou:
- Quer dizer, então, que já sou uma Pessoa Física?