Chama a atenção, todo o tempo, o foco errado dos candidatos em ataques
pessoais e não na apresentação e defesa de propostas acima da política e de
partidos, visando beneficiar o povo e a nação, que, diga-se de passagem, são um
só e estão acima da política. O dever das autoridades é zelar pela nação e por
seu povo, ou defender suas próprias idéias, pautados na vaidade e sede de
poder?
A raiz de nosso sistema político remonta séculos na história, mas o nome
já diz tudo: Partido - dividido, cindido. São facções ideológicas, que levam a
um eterno movimento pendular do poder, muitas vezes sem foco na nação, mas
errando o alvo e defendendo verdades próprias, poderes pessoais e ideologias
humanas, sem respeito ou ética para com os outros atores em cena.
Como há muito está escrito: "reino dividido não prospera", e
parece claro que há mais prejuízo que lucro para todos neste sistema político
dividido, rebaixado do que deveria ser o exercício da democracia. Agora
pensando, é visível que, nestas eleições, o espírito de divisão que começou nos
debates contaminou o país, criando inimizades e disputas até entre amigos, a
ponto de alguém parafrasear a conhecida canção, dizendo: "É preciso amar
as pessoas como se não houvesse eleição..."
O voto é livre e secreto, vamos cada um exercer seu direito e manter a
civilidade, o respeito e os relacionamentos acima das polêmicas e diferenças.
No palco, o debate político deveria ser objetivo, claro, respeitoso, com
foco nas propostas, sem ataques pessoais; unidade em prol da nação. Como se
configurou, mais parece encenação teatral ou briga de galo. "And the Oscar
goes to..."
Mas vale dizer que as questões em jogo são profundas e sérias
e exigem conhecimento, preparo, caráter, respeito, visão de quem se candidata a
liderar uma nação como o Brasil.
E será que nossa nação está ocupada em formar bons líderes, com caráter reto?
A construção do processo democrático é longa e difícil; acontece no
tempo da história, no decorrer de gerações. Estamos há 26 anos da retomada da
democracia, após sofrermos 25 anos de ditadura militar. São estes os recentes
capítulos de nossa história.
Temos que votar hoje tendo uma visão mais ampla e objetiva da história,
procurando escolher da melhor maneira que pedrinha vamos deixar, no breve tempo
de nossa existência, na longa construção de nossa sociedade.
A acalorada discussão entre A e B, cada um se fazendo salvador da pátria
e tentando fazer o outro vilão, é uma armadilha fácil para todos os eleitores,
um empobrecimento do discurso político e das relações humanas entre autoridades
que depõe contra eles mesmos, contra os brasileiros, e contra a nação.
"Modus politicus" lamentável, que recai no argumento infantil e
primário de culpar o outro, para tirar o foco de suas próprias
responsabilidades e defeitos diante de quem assiste.
Precisamos ver o momento com um certo recuo, com mais verdade e
honestidade, e menos emoção: na construção do processo democrático, os cidadãos
precisam conhecer seus direitos e deveres, participar de forma ativa da vida
política, social e econômica de sua nação. Precisam sair da passividade e da
cultura centenária brasileira de responsabilizar o governo por todos os
problemas e insucessos.
A corrupção não é política nem partidária, é humana, e está arraigada à
nossa cultura desde a colonização. Pode ser vista em todas as instâncias da
sociedade, não só no poder público, mas na iniciativa privada, na vida pessoal
e coletiva. O ser humano é corruptível, o poder, grande ou pequeno, seduz e
corrompe. Tem que haver verdade, clareza, justiça. E precisamos entender que todos
nós podemos nos corromper, se é que já não estamos corrompidos. Sorry. Aquele
que crê estar de pé cuide para que não caia. É também primário não reconhecer
nossa própria natureza humana e sempre jogar a culpa nos líderes.
No Brasil, "tirar proveito", ser passivo como cidadão, não
respeitar a lei (pra que serve limite de velocidade, por exemplo), furar fila
ou pagar para alguém passar na frente seu processo, desrespeitar pedestre,
idoso, ou qualquer pessoa, comprar carteira de estudante, de motorista, não se
importar com o que padece na rua, na favela, achar que o menino que rouba é um
vagabundo e não o fruto triste de uma sociedade injusta; são alguns dos
incontáveis exemplos das nossas "pequenas" corrupções e negligências,
tão arraigadas e aceitas que nem questionamos.
Será que não está na hora de limparmos de vez nossa conduta pessoal? De
começarmos a mudança olhando para o nosso umbigo, e então para o próximo, sua
família, seu bairro, sua cidade, e estendendo esta onda cidadã até os confins
da terra? Vamos parar de culpar o governo por tudo, mudarmos e agir?
O que vc tem feito como cidadão? Sua idéia de sucesso pessoal inclui a
justiça social, a igualdade, o desenvolvimento de sua nação, ou vc quer ser
próspero para satisfazer seus desejos pessoais, e continuar culpando as
autoridades, que vc nem respeita, por tudo?
Desculpem a sinceridade, mas acho que nosso problema é muito maior, é
histórico, cultural, e precisamos começar a olhar para nós mesmos, mudar nosso
posicionamento e conduta, e participar como cidadãos para que o país se
desenvolva de forma justa e igualitária para todos.
A escolha nesta eleição não está fácil, sofremos por décadas de falta de
exercício político e não temos líderes ideais. Mas quem sabe se mudarmos nossa
história, começando por nossa casa, quintal, cidade e nação, podemos ter
esperança de que lideres justos e com caráter reto venham a nos governar?
Vamos escolher bem nossos líderes
e abençoá-los para que nós tenhamos uma vida justa e sossegada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário